desenvolvimento cosmético

Como proteger a pele com antioxidantes cosméticos

Cleber Barros
Escrito por Cleber Barros em 6 de outubro de 2017
12 min de leitura
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Conheça algumas opções de antioxidantes que podem prevenir danos a pele e crie formulações eficazes e seguras

O envelhecimento é um processo de redução progressiva da capacidade de funcionamento de todos os órgãos do corpo, incluindo a pele. Neste último caso, em especial, fatores genéticos e hormonais contribuem com o chamado envelhecimento cronológico, também conhecido como envelhecimento intrínseco. O declínio natural da funcionalidade cutânea é acompanhado pela exposição a fatores ambientais como os poluentes, o cigarro, o álcool e a radiação ultravioleta: estes fatores, em conjunto, são responsáveis pelo envelhecimento extrínseco da pele.  Independentemente da origem dos fatores, o ponto central do envelhecimento cutâneo envolve a formação de radicais livres.

Os radicais livres são moléculas altamente instáveis e reativas, que buscam se estabilizar reagindo com outras moléculas como o DNA, as proteínas e os lipídeos, em um processo de oxidação. Os radicais mais importantes no processo de envelhecimento cutâneo são conhecidos como Espécies Reativas de Oxigênio (EROs) e de Nitrogênio (ERNs): dentre as EROs, podem-se citar o ânion superóxido (O2), o radical hidroxil (OH.) e o oxigênio singlete (1O2.), enquanto que o óxido nítrico (NO) e o peroxinitrito (ONOO) são as principais ERNs em sistemas biológicos. Em condições normais e saudáveis, praticamente todos os tipos celulares da pele produzem EROs e ERNs, sendo estas espécies indispensáveis na sinalização de vias que levam à correta execução das etapas do ciclo celular (crescimento, proliferação, diferenciação, senescência e morte).

Uma rede elaborada de compostos antioxidantes endógenos mantém a homeostase do sistema, realizando um fino balanço para impedir que os radicais exerçam suas atividades deletérias. Quando este balanço é perdido, seja em virtude da desaceleração natural do organismo ou por conta do excesso de agressões externas, o resultado é um fenômeno denominado estresse oxidativo.

 

 

O sistema antioxidante endógeno é formado por componentes enzimáticos e não-enzimáticos que, em conjunto, visam à proteção da pele contra o estresse oxidativo. A tabela abaixo discrimina estes componentes:

Componentes enzimáticos Componente não-enzimáticos
  • Glutationa peroxidase
Hidrossolúveis
  • Glutationa redutase
  • Ácido ascórbico (vitamina C)
  • Superóxido dismutase
  • Glutationa
  • Catalase
  • Ubiquinona
 
  • Melanina
  Lipossolúveis
 
  • Alfa-tocoferóis (vitamina E)
 
  • Coenzima Q10
  Outros
 
  • Ácido alfa-lipoico
 
  • Melatonina
 
  • Selênio
Tabela 1: Componentes do sistema antioxidante endógeno.

Os componentes vitamina E, catalase, superóxido dismutase e glutationa peroxidase são encontrados em abundância na camada viável da epiderme. O espaço extracelular da derme e da epiderme contém grandes quantidades de antioxidantes como o ácido ascórbico, o ácido úrico e glutationa. Já a camada mais externa da pele, o envelope corneificado, contém um gradiente de concentração de antioxidantes, com a maior concentração sendo encontrada nas camadas mais profundas. Nesta camada, são encontrados a glutationa, a vitamina C, o ácido úrico, a vitamina E e a coenzima Q10.

Na tentativa de se reforçar o sistema endógeno, é possível fornecer, por via oral ou tópica, alguns destes componentes endógenos ou, até mesmo, outras moléculas com características antioxidantes. Neste sentido, alguns dos componentes que são atualmente veiculados em formulações cosméticas com foco na atividade antioxidante serão detalhados adiante.

Compostos que fazem parte do sistema antioxidante endógeno

Uma das opções que o mercado cosmético oferece para a prevenção do envelhecimento cutâneo é a da suplementação do sistema endógeno com compostos que já fazem parte dele naturalmente:

1.Vitamina E

A vitamina E é um antioxidante lipossolúvel encontrado em diversos alimentos, como frutas, vegetais e carnes. Na verdade, existem oito isoformas ativas, as quais são agrupadas em tocoferóis e tocotrienóis.

Em animais, a isoforma alfa-tocoferol exibe atividade fotoprotetora quando aplicada topicamente: este composto é capaz de reduzir os danos induzidos pela radiação ultravioleta (UVB), além de diminuir o número de células que apresentam queimadura solar e de inibir a fotocarcinogênese.

Em humanos, um creme contendo tocoferol a 5 e 8% aplicado ao rosto foi capaz de melhorar os sinais do fotoenvelhecimento quando comparado com placebo. Ainda, a aplicação de vitamina E a 5%, 24 horas antes da exposição à radiação UV, mostrou-se capaz de inibir uma metaloelastase, um membro das metaloproteinases de matriz envolvida na degradação da elastina.

Estudos recentes sugerem a que aplicação combinada de antioxidantes pode potencializar esta ação e, consequentemente, ampliar a fotoproteção, como é o caso da administração conjunta das vitaminas C e E. No entanto, há relatos de que a aplicação tópica da vitamina E pode causar alguns efeitos colaterais, incluindo dermatite de contato.

 

 

2.Vitamina C

A vitamina C pode ser obtida apenas pela alimentação, estando presente, por exemplo, nas frutas cítricas. A luz solar e a poluição ambiental podem depletar a vitamina C presente na epiderme. Como este composto é um potente antioxidante, o aumento dos seus níveis na pele é plausível.

Esta vitamina existe predominantemente na sua forma reduzida: o ácido ascórbico. Sua forma oxidada, o dehidro-L-ácido ascórbico, pode ser encontrada apenas em traços e pode ser revertida à sua forma reduzida. No entanto, se o anel lactona de sua estrutura química se abre, perde-se a atividade antioxidante: é isso que ocorre quando preparações contendo vitamina C se oxidam, rendendo a elas a sua ineficácia. Portanto, formulações com vitamina C devem ser protegidas da luz e da exposição ao ar.

A aplicação tópica da vitamina C como um fotoprotetor vem sendo estudada in vitro e in vivo, demonstrando-se sua eficácia na prevenção dos danos causados pela luz solar com a redução de queimaduras e do eritema causado pela radiação UVA e UVB. A adição de vitamina C a filtros solares que atuam em UVA ou em UVB promove um aumento da proteção quando comparado aos filtros solares isolados. Além disso, já se demonstrou que a adição de vitamina C a produtos pós sol permite o combate das EROs induzidas por UV.

A vitamina C participa, também, da síntese de colágeno. A adição de ácido ascórbico aumenta a produção de colágeno por fibroblastos humanos, ao mesmo tempo em que ele pode reduzir a síntese de elastina por um mecanismo ainda desconhecido. Estudos clínicos mostram uma melhoria na aparência de rugas após a aplicação tópica de vitamina C, embora ainda sejam necessários novos estudos para o melhor entendimento dos seus efeitos sobre o envelhecimento cutâneo.

Portanto, a vitamina C tópica é útil na prevenção ou na suavização dos efeitos deletérios da radiação UV. No entanto, algumas pessoas podem experimentar desconfortos mínimos, como uma irritação leve, ao aplicar produtos com este composto.

~ Dúvidas ao manipular? Confira este outro artigo onde mostro 7 dicas essenciais para a correta manipulação da vitamina C.

3.Coenzima Q10

A coenzima Q10, ou ubiquinona, é um antioxidante lipossolúvel, bem como a vitamina E. Ela pode ser encontrada em todas as células humanas, como parte da cadeia respiratória, e também em alimentos, como em peixes.

Estima-se que cerca de 95% das necessidades energéticas do corpo são providas pela coenzima Q10. Estudos in vitro mostram que a coenzima Q10 suprime a expressão de colagenase induzida pela radiação UVA. Poucos estudos clínicos existem para avaliar os efeitos da aplicação tópica da coenzima Q10, mas este composto é um antioxidante utilizado em vários produtos ‘over-the-counter‘.

Até o momento, nenhum efeito colateral da aplicação tópica de coenzima Q10 foi reportado.

 

 

4.Idebenona

A idebenona é, na verdade, um análogo sintético da coenzima Q10. Sua atividade é superior à da própria coenzima Q10 e, em humanos, um estudo mostrou que a aplicação tópica de uma formulação contendo este composto apresentou efeitos positivos sobre a pele danificada pelos raios UV. No entanto, os efeitos apresentados sobre as rugas tendem a ser ligados ao efeito de hidratação ou de irritação. Há relatos de dermatite de contato atribuída à idebenona a 0,5% em creme.

À parte da suplementação dos compostos que fazem parte da regulação natural, existem outros tipos de moléculas que vêm sendo empregadas com a finalidade de reforçar o combate aos efeitos danosos que podem ser causados pelo estresse oxidativo. Boa parte delas é de origem vegetal e algumas serão descritas no próximo tópico.

 

Compostos de origem vegetal

De um modo geral, os compostos de origem vegetal que são aplicados topicamente com o intuito de reforçar o sistema antioxidante endógeno são fenólicos, porém existem outras classes de compostos que apresentam atividade antioxidante e que podem ser usados em cosmetologia.

1.CoffeeBerry®

O CoffeeBerry® (VDF FutureCeuticals) é o nome comercial de um extrato antioxidante do fruto do café (Coffea arabica). Este produto apresenta uma atividade antioxidante superior à do chá verde, à do extrato de romã (pommegranate) e às das vitaminas C e E.

O extrato contém polifenóis e um produto lançado a partir dele (RevalèskinTM, Stiefel Laboratories) foi capaz de, segundo a empresa, prover melhorias aos problemas da hiperpigmentação, de linhas finas, rugas e aparência geral da pele após 6 semanas de uso. Não há relatos de irritação causada por esse extrato.

2.Resveratrol

O resveratrol é um polifenol da classe das fitoalexinas e pode ser encontrado em uvas, nozes, vinho tinto e outros. Testes in vitro e in vivo demonstram que, quando aplicado topicamente, o resveratrol protege contra os danos causados pela radiação UVB e inibem o estresse oxidativo induzido por esta faixa de radiação.

3.Grape seed

O Grape seed é um extrato das sementes de uva (Vitis vinifera), rico em proantocianidinas. Estudos mostram que este extrato é um sequestrante de radicais livres mais poderoso que as vitaminas C e E e que ele é capaz de inibir a depleção da defesa antioxidante natural induzida por UVB. A aplicação tópica deste extrato pode aumentar o fator de proteção solar em humanos.

 

 

4.Romã (Pomegranate)

Os extratos de romã (Punica granatum), ricos em compostos fenólicos, podem ser obtidos da casca, das sementes ou do suco da fruta. Em particular, reporta-se que o extrato da casca restaura as atividades da catalase, da peroxidase e da superóxido-dismutase in vivo.

O extrato da fruta ameniza os danos causados pela radiação UVA e protege contra os efeitos adversos de UVB in vitro. O extrato de romã faz parte da composição de vários produtos ‘skin care‘.

5.Chá verde (Green Tea)

O chá verde (Camellia sinensis), além de ser uma bebida muito popular, é uma fonte de catequinas, das quais a epigalocatequina-3-galato é a mais abundante e a que apresenta maior atividade biológica.

As catequinas do chá verde possuem não apenas a atividade antioxidante, mas também as atividades anti-inflamatória e anticarcinogênica, além de prevenir a indução das metaloproteases de matriz.

Na pele humana, estudos mostram que as catequinas do chá verde promovem a redução do eritema, da imunossupressão e dos danos ao DNA causados pela radiação UV.

6.Genisteína

A genisteína é uma isoflavona derivada da soja e tem a capacidade de inibir o dano oxidativo ao DNA. Já pôde ser demonstrado que este composto, tanto administrado por via oral quanto tópica, protege a pele humana contra os danos causados pela UVB.

Além dos compostos de origem vegetal, há um outro importante composto antioxidante que merece ser destacado: a niacinamida, ou nicotinamida. Em adição à atividade antioxidante, a niacinamida exibe propriedades anti-inflamatórias, despigmentantes e imunomodulatórias. O uso deste composto promove a melhora da textura e do tônus cutâneo, reduzindo linhas finas e rugas. A niacinamida tópica é bem tolerada e pode ser encontrada em vários produtos para cuidados com a pele.

Todos estes compostos, além de outros disponibilizados no mercado, podem ser administrados topicamente em formulações cosméticas, sempre com atenção à eficácia e à segurança do produto. Embora haja dados científicos sugerindo os benefícios da administração oral e tópica de compostos antioxidantes, ainda se carece de estudos clínicos que investiguem o papel deles na prevenção e desaceleração do envelhecimento cutâneo.

Ao se formular uma composição com um antioxidante deve-se considerar que estes compostos são bastante instáveis e podem se oxidar, tornando-se inativos antes de atingirem o seu local de ação. Outro ponto a se ressaltar é o de que, para que sejam efetivos, os antioxidantes devem ser absorvidos pela pele, de forma a alcançar o local de ação na forma ativa e permanecer no local de ação por tempo suficiente para que exerçam os efeitos desejados.

 

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Referências:
[1] Bogdan Allemann, MD; L. Baumann, MD. Antioxidants Used in Skin Care Formulations Disponível em http://www.skintherapyletter.com/2008/13.7/2.html
[2] Pai VV, Shukla P, Kikkeri NN. Antioxidants in dermatology. Indian Dermatology Online Journal. 2014;5(2):210-214. doi:10.4103/2229-5178.131127.

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