desenvolvimento cosmético

Corpos lamelares e a formação da barreira cutânea

Cleber Barros
Escrito por Cleber Barros em 2 de setembro de 2020
8 min de leitura
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Aprenda o que são os corpos lamelares e como as atuais pesquisas são importantes para entender melhor o funcionamento da pele.

Nos anos 50 aos anos 60, microscópios de transmissão eletrônica se tornaram mais acessíveis, gerando vários estudos da ultraestrutura de vários tecidos incluindo a epiderme. Um desses estudos descobriu uma pequena organela que foi então nomeada de corpo lamelar ou então grânulo lamelar.

Os grânulos lamelares são organelas muito importantes para os queratinócitos (as células mais abundantes no epitélio, responsáveis pela síntese de queratina), pois estas permitem que os queratinócitos alongem e achatem para formar o estrato granuloso, que é uma das camadas constituintes da epiderme. 

Para relembrar, a epiderme é constituída de quatro camadas: o estrato córneo, o estrato granuloso, o estrato espinhoso e o estrato basal. Os corpos lamelares são vistos primeiramente no estrato espinhoso e se aglomeram já diferenciados na camada granular. Na parte mais elevada da camada granular, a membrana que delimita essas organelas se funde no plasma da membrana celular do queratinócito, e seu conteúdo é lançado para o espaço intercelular. Esse conteúdo sofre um rearranjo para a formação da lamela intercelular do estrato córneo. Com isso, é possível concluir que os grânulos lamelares são importantes para a formação da barreira cutânea, que é o mecanismo que atua contra a perda transepidermal excessiva de água da pele e contra a entrada de agentes nocivos na pele. 

Além de apresentar o papel fundamental na formação da barreira cutânea, essas organelas também participam da descamação da pele. Os corpos lamelares contêm glucosilceramidas, esfingomielinas, colesterol e outros lipídios além de proteases, enzimas proteolíticas, inibidores de proteases, péptidos antimicrobianos e diversas outras proteínas. Enzimas proteolíticas e proteases juntas podem regular a descamação da pele.

Defeitos nos corpos lamelares foram demonstrados como sendo causa de algumas doenças na pele caracterizadas pela diminuição da função de barreira da pele, geralmente associadas como um aumento na perda transepidermal de água. Essas doenças são normalmente caracterizadas por diferentes níveis de ictiose, chegando a apresentar risco a  vida. 

Para entender qual a importância das anormalidades dos corpos lamelares nessas doenças, é necessário ter um conhecimento detalhado da origem, estrutura, composição, formação e função dessas organelas em peles saudáveis. Entretanto a origem dos corpos lamelares ainda é pouco conhecida. 

Um novo modelo que explique a formação da barreira da pele pode elucidar a origem de doenças, além de ajudar na criação de fármacos que curem ou amenizem aspectos dessas doenças. Diversos estudos sobre corpos lamelares propuseram diferentes modelos.

No modelo proposto por Landmann em 1986, os corpos lamelares são formados por fissão de membrana provindos das redes do Golgi de queratinócitos, depois ocorre a difusão dos corpos lamelares no citosol da interface do estrato granuloso-estrato córneo com posterior fusão das organelas. Entretanto, no ano de 2001 o dermatologista e pesquisador Lars Norlen propôs que as redes do Golgi, os corpos lamelares e a interface do estrato granuloso-estrato córneo eram uma única estrutura membranosa contínua, sem barreira existente entre o exterior celular e sua rede de membranas.

Estudos mais recentes (2018) sobre o assunto foram realizados no Japão pelo centro de inovação da marca Shiseido e pelo departamento de dermatologia da universidade médica de Asahikawa. Utilizando a técnica de reconstrução de imagens 3D esses pesquisadores mostraram que os corpos lamelares mudam sua forma de vesicular (formato de esfera) para reticular (formato de rede) quando transitaram entre as camadas do estrato granuloso. Isso sugere que os corpos lamelares maturam junto com a diferenciação dos queratinócitos, além disso o resultado desse estudo é condizente com o modelo proposto por Landmann.

Assim, podemos concluir que ainda são necessárias muitas pesquisas sobre o assunto já que as atuais ainda não são suficientes para elucidar o funcionamento geral dos corpos lamelares. Entretanto o uso de equipamentos modernos é importante para validar ou contestar modelos que foram feitos há décadas. Com o melhor entendimento da formação e funcionamento da epiderme podemos vislumbrar a  criação de tratamentos para doenças severas ou até mesmo dermocosméticos.

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Referências:
[1] Hayward, A. F. [Membrane-Coating Granules]. International Review of Cytology (1979) p.97–127. 
[2] Nórlen L. [Skin Barrier Formation: The Membrane Folding Model]. Journal of Investigative Dermatology. Volume 117. (2001). p. 823-829.
[3] Roger, M. et al. [Bioengineering the microanatomy of human skin]. Journal of Anatomy (2019). Volume 234. p. 438-455.
[4] Wertz P. [Epidermal Lamellar Granules]. Skin Pharmacol Physiol (2018). Volume 31.p. 262–268.
[5] Yamamoto A.K.; Igawa S.; Kishibe M. [Molecular basis of the skin barrier structures revealed by electron microscopy]. Experimental Dermatology (2018). Volume 27. p 841-846.
[6] Yamanishi H.; et al. [Marked Changes in Lamellar Granule and Trans-Golgi Network Structure Occur during Epidermal Keratinocyte Differentiation]. Journal of Investigative Dermatology (2019) 139. p. 352-359.

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