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Uso de óleos essenciais como fragrâncias em cosméticos

Cleber Barros
Escrito por Cleber Barros em 5 de agosto de 2021
5 min de leitura
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Saiba como utilizar os óleos essenciais como fontes naturais de fragrâncias

Introdução

As fragrâncias estão presentes em grande parte dos produtos cosméticos de mercado e são consideradas por muitos consumidores um fator determinante para a escolha de um produto. Além disso, também são muito utilizadas para mascarar alguns odores indesejados que a formulação possa apresentar. Nesse artigo vou falar sobre o uso dos óleos essenciais como fragrâncias naturais em cosméticos.

Nesse artigo você verá:

  • Uso de fragrâncias em cosméticos;
  • Os óleos essenciais como fragrâncias;
  • Propriedades químicas dos óleos essenciais;
  • Segurança dos óleos essenciais.

Uso de fragrâncias em cosméticos

As fragrâncias possuem um papel relativamente importante nos cosméticos, isso porque elas apresentam um impacto considerável na avaliação e na escolha dos produtos pelos consumidores. Além de tornar os produtos mais atraentes, muitas vezes as fragrâncias também são utilizadas para mascarar o cheiro desagradável que alguns componentes da formulação podem proporcionar. [1]

Ultimamente, devido ao movimento e ao consumismo conhecido como “verde” e “sustentável”, os ingredientes naturais vêm se evidenciando cada vez mais em produtos cosméticos. Dentre tais ingredientes, o uso de óleos essenciais como fragrância apresenta grande destaque. [1] 

Óleos essenciais como fragrâncias

Muito provavelmente os óleos essenciais são utilizados desde a descoberta do fogo, e diversos povos (como os egípcios, judeus, árabes, indianos, chineses, gregos, romanos, maias e astecas) possuíam uma cultura de fragrâncias de grande requinte. [2]

Óleos essenciais são amplamente utilizados em cosméticos devido aos diversos benefícios que eles oferecem. Dentre as razões para o seu uso, uma das principais é porque proporcionam aromas agradáveis à formulação. Por isso, já foi registrada uma ampla gama de óleos essenciais que são comumente utilizados como fontes significativas de fragrâncias em produtos cosméticos. [1]

Os óleos são misturas complexas de compostos voláteis, sendo constituídos basicamente por terpenos e outros compostos aromáticos ou alifáticos, produzidos como metabólitos secundários em tecidos secretores especializados de plantas aromáticas. Na natureza, os óleos essenciais atuam na defesa das plantas e nos processos de sinalização (como na proteção das plantas contra insetos, por exemplo). [1]

O uso de óleos essenciais em cosméticos é uma prática bastante significativa pois, além deles atribuírem aroma agradável à formulação, também apresentam ações benéficas para a pele. Além do mais, a grande demanda por ingredientes naturais em produtos cosméticos fez com que muitas indústrias se reinventassem, vendo nos óleos essenciais uma opção bastante atraente. [1]

Muitas empresas estão optando por utilizar cada vez mais ingredientes naturais em suas formulações cosméticas. Com isso, é possível observar um crescimento significativo no mercado de fragrâncias naturais (como o uso de óleos essenciais em cosméticos). Ademais, os óleos essenciais também são amplamente utilizados para promover outros benefícios à pele (como melhora na hidratação e elasticidade da pele, ação clareadora, anti-acne, anti-envelhecimento, entre outros), o que torna o seu uso bastante proveitoso na indústria cosmética. Além disso, esses ingredientes também contribuem para a imagem de marketing natural para o produto. [1, 3, 4, 5]

Todas as partes das plantas aromáticas podem conter óleos essenciais. Alguns exemplos são: flores (rosa, lavanda e laranja), folhas (hortelã, eucalipto e sálvia), rizomas (gengibre e açoro), sementes (amêndoa, erva-doce e cardamomo), frutos (pimenta preta e noz moscada), cascas (bergamota, limão e tangerina), madeira (cânfora, sândalo e cedro) e resinas (mirra e olíbano). [6]

Propriedades químicas dos óleos essenciais

Os óleos essenciais consistem basicamente em moléculas lipofílicas, pequenas e não polares. Após o processo de colheita das plantas, o óleo essencial pode ser extraído de diferentes partes da planta e através de alguns métodos distintos, como: destilação a vapor (mais comum), expressão (é o esmagamento físico das glândulas localizadas na casca do fruto, sendo comumente utilizado para obter óleos essenciais de cascas de frutas cítricas, como laranja, limão, bergamota, etc.), extração assistida por microondas (o aumento da temperatura e a umidade proporciona rompimento das membranas e consequente liberação do óleo essencial) e extração por solvente. [1, 7]

Normalmente, a escolha do método de extração depende do tipo de material botânico utilizado, bem como o seu estado e forma. O método de extração é um dos principais fatores que determinam a qualidade do óleo essencial, uma vez que a escolha de um método considerado inapropriado pode causar danos às características naturais do produto, como por exemplo alterações na cor, no odor e na viscosidade. [3]

Os óleos essenciais são óleos extremamente voláteis, quando comparados com os óleos vegetais, animais e minerais. Por isso, quando pingada sobre um pedaço de pano ou de papel, o odor de apenas uma gota de óleo essencial pode desaparecer em alguns minutos, ou no máximo em alguns dias, dependendo da temperatura do meio (o que não ocorre com os óleos graxos, por exemplo). [8]

Os óleos essenciais podem ser constituídos por uma mistura de compostos aromáticos e não aromáticos (alifáticos), de forma que ambos contribuem para a percepção do aroma. [1]

Os óleos essenciais podem conter mais de 300 compostos diferentes. São compostos orgânicos voláteis, geralmente de baixo peso molecular. Tais compostos orgânicos voláteis podem pertencer a várias classes químicas, como álcoois, éteres ou óxidos, aldeídos, cetonas, ésteres, aminas, amidas, fenóis e, principalmente, os terpenos. Os álcoois, aldeídos e cetonas são responsáveis pelas notas aromáticas frutadas, florais e cítricas, por exemplo. [8]

Imagem 1 – Estrutura de alguns terpenos

Fonte: Essential Oils’ Chemical Characterization and Investigation of Some Biological Activities: A Critical Review. Wissal Dhif, et al., 2016.

Os terpenos são o principal grupo constituinte de óleos essenciais, e a sua classificação está relacionada com o número de unidades de isopreno presentes em sua estrutura. Assim, dependendo do número de unidades C5, os terpenos são classificados em hemiterpenos (C5), monoterpenos (C10), sesquiterpenos (C15) e diterpenos (C20); sendo os monoterpenos os mais abundantes nos óleos essenciais. Alguns exemplos de terpenos bastante utilizados na perfumaria são o geraniol, linalol, citronelol, citronelal e citral. [1, 6]

Quanto à sua composição, os óleos essenciais apresentam uma grande variabilidade, sendo que tanto fatores intrínsecos como extrínsecos são responsáveis por isso. Os fatores intrínsecos são aqueles referentes à interação da planta com o meio ambiente (como o tipo de solo e clima, por exemplo) e à maturidade da planta. Já os fatores extrínsecos estão relacionados ao método de extração e ao meio ambiente. [8]

Por fim, a composição dos óleos essenciais também pode variar de acordo com fatores fisiológicos (órgão da planta, ontogênese, etc.), ambientais (composição do solo e condições climáticas) e também genéticos. Além disso, outros fatores como a disposição geográfica, os padrões de colheita e de produção, as condições de armazenamento, entre outros, também podem interferir na composição química dos óleos essenciais. [1]

Quanto às características gerais que os óleos essenciais apresentam, estes são solúveis em álcool, éter e óleos fixos, mas são insolúveis em água. Normalmente são líquidos e incolores à temperatura ambiente e apresentam odor característico. Além disso, apresentam alto índice de refração e alta atividade óptica. [1]

Classificação de fragrâncias

Os aromas usualmente são classificados por “notas”, sendo elas de topo, de coração e de fundo. As notas de topo são as mais voláteis, sendo as que apresentam os primeiros odores perceptíveis. Ou seja, essas notas são as primeiras a serem sentidas e, consequentemente, são as que fazem com que as pessoas adquiram determinado produto atraídas pelo cheiro. Apresentam odores leves que duram de 5 a 10 minutos. Alguns exemplos desse tipo de nota são bergamota, zimbro, canela e gardênia. As notas de coração são as que dão corpo à mistura. Apresentam odores picantes ou florais que duram até 1 hora. Alguns exemplos são ylang-ylang, gerânio, lavanda, jasmim e cravo. Por fim, as notas de fundo são as que proporcionam maior complexidade à mistura. Apresentam menor volatilidade e permanecem por várias horas. Alguns exemplos são mirra, baunilha e sândalo. [1]

O mercado de óleos essenciais e sua demanda em produtos cosméticos

O uso de óleos essenciais em cosméticos vem crescendo exponencialmente devido à forte demanda por ingredientes naturais. Particularmente na indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, alguns óleos essenciais se destacam mais que outros. Por exemplo, os óleos essenciais de laranja e de limão apresentam propriedades antissépticas, podendo ser utilizados tanto para os cuidados da pele quanto dos cabelos. [1]

Alguns tipos de óleos essenciais são mais populares e por isso acabam sendo produzidos em larga escala, como aqueles obtidos de uma variedade de frutas do gênero Citrus, por exemplo. Por outro lado, alguns óleos considerados mais raros são produzidos em pequenas quantidades, e por isso são comercializados a preços mais altos (como o óleo de rosa, por exemplo). [1]

Segurança dos óleos essenciais

O uso de ingredientes naturais tem se tornado cada vez mais popular, e com os óleos essenciais não é diferente. Mesmo que o uso de óleos essenciais em cosméticos seja considerado seguro quando em baixas concentrações, alguns tipos tendem a provocar mais reações alérgicas quando comparados a outros. Tais reações podem ocorrer porque esses produtos contêm compostos com estruturas e efeitos químicos variados. [1, 7]

Por exemplo, a presença de algum alérgeno ou de contaminantes pode ser um fator para a predisposição de dermatite de contato alérgica. Além disso, a oxidação de alguns constituintes dos óleos essenciais (como o (+) – limoneno, δ-3-careno e α-pineno, por exemplo) podem provocar reações na pele. [1]
No total, vinte e seis fragrâncias foram definidas por serem possivelmente alergênicas. Dentre estas, dezoito delas podem ser encontradas nos óleos essenciais. Por essa razão, segundo a legislação vigente, quando um produto possuir alguma dessas fragrâncias, estas devem ser declaradas na embalagem se a sua concentração for superior à concentração permitida de 0,01% em produtos com enxágue e superior a 0,001% produtos sem enxágue (como óleos corporais e cremes, por exemplo). [1, 9]

Conclusão

O uso de óleos essenciais em cosméticos vem crescendo nos últimos tempos, sendo estes muito utilizados tanto como fragrâncias quanto como componentes ativos nas formulações. Essa ampla funcionalidade dos óleos essenciais faz com que eles sejam ingredientes bastante valorizados em cosméticos. Além disso, o movimento dos cosméticos naturais contribui para o aumento do seu uso, indicando um futuro bastante promissor para esses produtos cosméticos. Para criar um cosmético que contém óleo essencial em sua formulação é importante, dentre outros fatores, conhecer as propriedades do óleo utilizado, suas características olfativas e a sua segurança de uso em cosméticos.

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Referências

[1] SHARMEEN, Jugreet B. et al. Essential Oils as Natural Sources of Fragrance Compounds for Cosmetics and Cosmeceuticals. Molecules, v. 26, n. 3, p. 1-24, jan. 2021. DOI 10.3390/molecules26030666.
[2] SAWAMURA, Masayoshi.
Citrus Essential Oils: Flavor and Fragrance. [S. l.]: John Wiley & Sons, 2010. 410 p. ISBN 978-0-470-37218-0.
[3] AUMEERUDDY-ELALFI, Zaahira et al. Selected essential oils inhibit key physiological enzymes and possess intracellular and extracellular antimelanogenic properties in vitro.
Journal of food and drug analysis, v. 26, n. 1, p. 232-243, jan. 2018. DOI 10.1016/j.jfda.2017.03.002.
[4] WONGSUKKASEM, Nuntapol et al. Antiacne-causing Bacteria, Antioxidant, Anti-Tyrosinase, Anti-Elastase and Anti-Collagenase Activities of Blend Essential Oil comprising Rose, Bergamot and Patchouli Oils.
Natural Product Communications, v. 13, n. 5, p. 639-342, mar. 2018. DOI 10.1177/1934578X1801300529.
[5] MONTENEGRO, Lucia et al. Rosemary Essential Oil-Loaded Lipid Nanoparticles: In Vivo Topical Activity from Gel Vehicles.
Pharmaceutics, v. 9, n. 4, p. 1-12, out. 2017. DOI 10.3390/pharmaceutics9040048.
[6] TONGNUANCHAN, Phakawat; BENJAKUL, Soottawat. Essential Oils: Extraction, Bioactivities, and Their Uses for Food Preservation.
Journal of Food Science, v. 79, n. 7, p. R1231-R1249, jun. 2014. DOI 10.1111/1750-3841.12492.
[7] SARKIC, Asja; STAPPEN, Iris. Settings Open AccessReview Essential Oils and Their Single Compounds in Cosmetics—A Critical Review.
Cosmetics, v. 5, n. 1, p. 1-21, jan. 2018. DOI 10.3390/cosmetics5010011.
[8] DHIFI, Wissal et al. Essential Oils’ Chemical Characterization and Investigation of Some Biological Activities: A Critical Review.
Medicines, v. 3, n. 4, p. 1-16, set. 2016. DOI 10.3390/medicines3040025.
[9] BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n° 3, de 18 de janeiro de 2012, aprova o Regulamento Técnico “LISTAS DE SUBSTÂNCIAS QUE OS PRODUTOS DE HIGIENE PESSOAL, COSMÉTICOS E PERFUMES NÃO DEVEM CONTER EXCETO NAS CONDIÇÕES E COM AS RESTRIÇÕES ESTABELECIDAS” e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 18 de jan. 2012

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