desenvolvimento cosmético

Óleo essencial e óleo vegetal: principais diferenças e aplicações no P&D de cosméticos

Cleber Barros
Escrito por Cleber Barros em 22 de junho de 2022
9 min de leitura
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Entenda a ciência por trás dos óleos vegetais e óleos essenciais e saiba quais são as principais diferenças entre eles, entendendo os principais tipos, suas propriedades e aplicações em formulações cosméticas.

Introdução

Óleos vegetais e óleos essenciais são amplamente utilizados em cosméticos. Ambos os óleos são derivados vegetais, entretanto há diferenças entre eles. Nesse artigo irei explicar quais são as principais diferenças entre os óleos vegetais e essenciais e quais são suas principais aplicações.

Nesse artigo você irá ver:

  • O que são óleos essenciais;
  • O que são óleos vegetais;
  • Principais diferenças entre eles.

Óleos essenciais

Segundo a The Comission of European of The European Pharmacopeia, óleos essenciais são: “produtos com odores, normalmente com composição complexa, obtidas de origem vegetal por meio de destilação a vapor, ou por algum processo mecânico adequado sem aquecimento (também conhecido como “prensagem a frio”). Os óleos essenciais normalmente são separados da fase aquosa por meio de um processo físico que não afete significativamente a sua composição.”[4]

Óleos essenciais são moléculas lipofílicas, pequenas e não-polares. Uma das principais características desses óleos é a volatilidade. Seu nome é óleo essencial pois possui a “essência” das características olfativas das plantas que é extraído. [6] Normalmente são extraídos por destilação a vapor, por conta de sua volatilidade.[1] Entretanto, também podem ser extraídos por outros métodos, como hidrodifusão e pressão.[7] 

Um dos principais usos dos óleos essenciais em produtos cosméticos é como fragrância. Nos últimos anos, os óleos essenciais também ganharam popularidade por conta da aromaterapia, uma prática que explora os benefícios físicos, fisiológicos e holísticos dos óleos essenciais. 

Os óleos essenciais consistem em uma combinação de diversas substâncias individuais que, dependendo da concentração, podem ser divididos em: componentes principais (20 – 95%), secundários (1 – 20%) e traços (abaixo de 1%). A composição química e qualidade dos óleos essenciais podem variar dependendo de diversos fatores como época de colheita, a localização de cultivo, a parte da planta e método de produção.[9] 
A ISO (International Organization for Standardization) define os óleos essenciais como produtos produzidos por destilação a água ou vapor, por processamento mecânico de cascas cítricas ou por destilação a seco.[9] 

Química dos óleos essenciais

Consistem em moléculas orgânicas, voláteis, geralmente com baixo peso molecular (abaixo de 300). Os compostos voláteis pertencem a várias classes químicas como álcoois, éteres, aldeídos, cetonas, ésteres, aminas, amidas, fenóis e terpenos. Álcoois, aldeídos e acetonas oferecem ampla variedade de notas aromáticas, como frutal ((E)-nerolidol), floral (Linalol), cítrico (Limoneno), herbal (γ-selinene).[3]

Os componentes dos óleos essenciais pertencem majoritariamente à família de terpenos. Diversos compostos que pertencem à família de terpenos já foram identificados em óleos essenciais, como álcoois (geraniol, alfa-bisabolol), cetonas (mentona), aldeídos (citronelal) e fenóis (timol).[3]

Óleos essenciais também possuem compostos não terpênicos biogerados pela via dos fenilpropanóides, como eugenol, cinamaldeído e safrol.[3] 

Esses óleos são misturas com multicomponentes, e em um único óleo podem ser encontradas até 400 substâncias químicas, por exemplo. O maior grupo de substâncias químicas encontradas em óleos essenciais são os terpenos. Há diversas classes de terpenos, e elas se diferem no número de unidades de isopreno (um hidrocarboneto). Nos óleos essenciais, os mais importantes são os monoterpenos e os sesquiterpenos. Monoterpenos (C10H16) possuem 10 átomos de carbono e são construídos a partir de 2 unidades de isopreno. Existem três formas de monoterpenos (linear (acíclica), monocíclica e bicíclica). Sesquiterpenos (C15H24), que possuem 15 átomos de carbono, são construídos a partir de 3 unidades de isopreno e podem ocorrer na forma acíclica, monocíclica e bicíclica. São os terpenos com temperatura de ebulição mais alta. A volatilidade e o odor típico dos óleos essenciais são criados através de ambos os grupos.[2] 
Os constituintes presentes nos óleos essenciais são relativamente instáveis, logo, é importante tomar alguns cuidados ao armazenar esses ingredientes. Óleos essenciais devem ser armazenados em recipientes bem fechados, ao abrigo da luz e calor. Sugere-se que as mesmas precauções sejam tomadas ao armazenar um produto cosmético com óleo essencial em sua composição.[4]

Alguns óleos essenciais usados em cosméticos

Óleo essencial de lavanda

Esse óleo essencial é um clássico da cosmetologia, e apresenta ação anti-inflamatória, calmante e cicatrizante. De acordo com o padrão ISO esse óleo deve conter acetato de linalila (25 – 47%), linalool (máximo de 45%), terpinen-4-ol (máximo de 8%), cânfora (máximo de 1.5%), limoneno (máximo de 1%) e eucaliptol (máximo de 3%).[9] 

Óleo essencial de camomila

Esse óleo essencial é outro clássico da cosmetologia. Possui alta concentração de sesquiterpenos e baixa concentração de monoterpenos. Outros componentes importantes incluem farneceno, camazuleno e óxidos de bisabolol A e B, que são responsáveis pelas propriedades anti-inflamatórias e antissépticas do óleo. Esse óleo essencial é considerado uma boa opção para suavização da inflamação cutânea.[9] 

Óleo essencial de melaleuca (Tea Tree)

Também conhecido com óleo de Tea Tree, possui ação antisséptica, antifúngica e anti-inflamatória, e é amplamente utilizado em produtos para acne. Sua composição química contém substâncias como α-pineno, β-pineno, sabineno, mirceno, terpineno, limoneno, linalol e terpinen-4-ol.  A European Cosmetic Association recomenda que esse óleo essencial não ultrapasse a concentração de 1% em produtos cosméticos. Além disso, a embalagem do produto deve minimizar a exposição à luz, uma vez que ele é sensível à oxidação.[9] 

Óleo essencial de hortelã-pimenta

Os principais componentes deste óleo essencial são o mentol (33-35%) e a mentona (14-33%). Também possui outros compostos químicos, como acetato de metila e limoneno. É utilizado principalmente por conta de seu efeito refrescante e mentolado.[9] 

Óleo essencial de alecrim

Esse óleo essencial possui aroma forte, quente e amadeirado. Seus principais componentes são eucaliptol (19.4%) e alfa-pineno (14.7%). Também é possível encontrar cânfora (9.4%), canfeno (6.9%), beta-pineno (6.7%), beta-mirceno (5.8%) e limoneno (5.2%).[9]

Fragrâncias individuais

Bisabolol

O bisabolol é um álcool monocíclico sesquiterpeno, e é um dos principais compostos ativos do óleo essencial de camomila. Devido ao seu odor floral e agradável, é usado em fragrâncias e produtos de cuidados pessoais. Possui ação anti-inflamatória, cicatrizante, calmante e antimicrobiana.[9] 

Citral

O óleo essencial de lemongrass (capim-limão) contém 70-80% desse monoterpeno. Também é encontrado em outros óleos essenciais, como o de laranja, limão e citronela. Possui um odor agradável de limão.[9] 

Eugenol

O eugenol é um álcool monoterpenoide. Está presente no óleo de citronela e de palmarosa, mas também pode ser encontrado em menores concentrações nos óleos de limão, gerânio, bergamota e lavanda. Possui um odor agradável de rosas. Possui ação antisséptica, antibacteriana e anti-inflamatória.[9]   

Geraniol

É um álcool monoterpênico. Possui um aroma doce de rosas. Pode ser encontrado em óleos essenciais como o de rosa, citronela, palmarosa, limão, gerânio, bergamota e lavanda. Possui propriedades antissépticas, antibacterianas e anti-inflamatórias.[9]

Mentol

É um composto orgânico extraído dos óleos essenciais de menta e hortelã-pimenta. Quando aplicado topicamente, o mentol expande os vasos sanguíneos, causando um efeito refrescante.Também alivia a dor e sintomas de prurido (coceira). Entretanto, é importante tomar cuidado com as concentrações utilizadas. Em baixas concentrações (0.1-1%), o mentol exerce função antiprurítica e anti-inflamatória. Em concentrações maiores (acima de 1.25%), pode causar sensibilização e irritação.[9]

Potencial alergênico dos óleos essenciais 

Apesar dos óleos essenciais possuírem diversos benefícios, é importante se atentar a um fator: potencial alergênico. Óleos essenciais podem ser fontes de substâncias com potencial alergênico. 

No Brasil, existe uma RDC (RDC Nº 03/2012) que lista 26 componentes de fragrâncias que podem causar reações alérgicas em pessoas sensíveis a fragrâncias e aromas. As substâncias presentes nessa lista devem ser listadas no rótulo do produto, em nomenclatura INCI, quando a concentração exceder 0,001% em produtos sem enxágue e 0,01% em produtos com enxágue. Essa lista inclui substâncias como:

  • Benzyl Alcohol;
  • Benzyl Benzoate. 
  • Cinnamal;
  • Citral;
  • Citronellol;
  • Farnesol;
  • Geraniol;
  • Linalool.

Óleos vegetais

Os óleos vegetais são produzidos pelas plantas como uma fonte de energia, e a maior concentração está presente nas sementes e frutos. A maior parte (cerca de 95%) da composição dos óleos vegetais é representada pelos triglicerídeos. Os 5% restantes são compostos por fosfolipídeos, glicolipídeos, sulfolipídeos, ceras, hidrocarbonetos como o esqualeno, pigmentos na forma de carotenóides e clorofila, vitamina E, polifenóis e álcoois triterpênicos. A porção não triglicerídica é conhecida como “porção insaponificada”.[8] 

A composição graxa dos óleos vegetais é classificada com a presença ou ausência de ligações duplas. Ácidos graxos saturados não possuem ligação dupla, ácidos graxos monoinsaturados possuem apenas uma ligação dupla e ácidos graxos poliinsaturados possuem mais de uma ligação dupla.[5] 

Esses óleos são usados como emolientes, por conta de suas propriedades de hidratação e suavização da superfície cutânea.

Alguns óleos vegetais usados na cosmetologia

ÓleoFunções principais
Óleo de cocoPropriedades de reconstituição
Óleo de semente de girassolEmoliência, reparação
Óleo de olivaEmoliência, reparação
Óleo de amêndoas doceSuavização de pele rachada, efeito calmante
Óleo de abacateEstimula os fibroblastos, inibe a colagenase
Manteiga de KaritéAlta hidratação, propriedades cicatrizantes
Óleo de ArganPoder antioxidante
Fonte: Adaptado de SARKAR, Rashmi et al. Use of vegetable oils in dermatology: an overview. International journal of dermatology, 2017.

Principais diferenças entre óleos vegetais e óleos essenciais e suas aplicações

Ambos os óleos são derivados vegetais, mas há grandes diferenças entre eles. Uma das principais diferenças entre esses óleos está na composição. Enquanto a maior parte da composição dos óleos vegetais são componentes graxos, os óleos essenciais são compostos majoritariamente por terpenos. Dessa maneira, óleos essenciais são voláteis (evaporam).

Além disso, há grande diferença na aplicação de ambos os tipos de óleos. Por conta de suas propriedades, os óleos vegetais são utilizados como emolientes, ou seja, são responsáveis por hidratar e suavizar a superfície da pele. Não há regra, mas esses ingredientes normalmente são utilizados em altas concentrações, dependendo do produto. Já os óleos essenciais são utilizados principalmente como fragrância e em baixas concentrações. Suas outras propriedades, como ação antiinflamatória, antimicrobiana e calmante também podem ser exploradas, entretanto. Também não há nenhuma regra, mas por conta de seu potencial alergênico, esses ingredientes normalmente são utilizados em concentrações de até 2%. Em produtos destinados à peles sensíveis/sensibilizadas sugere-se que a concentração seja baixa. 
Esses ingredientes podem ser utilizados nos mais diversos produtos, como emulsões, sistema de limpeza e sistemas anidros. Durante a manipulação/produção, os óleos vegetais podem ser aquecidos junto dos outros ingredientes oleosos, como ceras e manteigas. Já os óleos essenciais fazem parte da fase termolábil da formulação, por conta de sua volatilidade, portanto não é recomendado aquecê-los. O ideal é adicioná-los após o resfriamento da formulação (em temperaturas abaixo de 40º C). Caso isso não seja possível, como no caso de cosméticos sólidos, adicione após retirar o sistema do aquecimento.

Conclusão

Óleos de origem vegetal são amplamente usados em produtos cosméticos, mas isso pode ser motivo de confusão, uma vez que muitas pessoas não sabem as diferenças entre óleo vegetal e óleo essencial. Óleos vegetais possuem em sua composição alta concentração de componentes graxos (triglicerídeos) e atuam principalmente como emolientes. Já os óleos essenciais possuem alta concentração de moléculas voláteis (principalmente terpenos), portanto são utilizados majoritariamente como fragrância.

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Referências

[1] DE GROOT, Anton C.; SCHMIDT, Erich. Essential oils, part I: introduction. Dermatitis, v. 27, n. 2, p. 39-42, 2016.
[2] DE GROOT, Anton C.; SCHMIDT, Erich. Essential oils, part III: chemical composition. Dermatitis, v. 27, n. 4, p. 161-169, 2016.
[3] DHIFI, Wissal et al. Essential oils’ chemical characterization and investigation of some biological activities: A critical review. Medicines, v. 3, n. 4, p. 25, 2016.
[4] Guidance on essential oils in cosmetic products. Council of Europe, 2016.
[5] GUIDONI, M. et al. Fatty acid composition of vegetable oil blend and in vitro effects of pharmacotherapeutical skin care applications. Brazilian Journal of Medical and Biological Research, v. 52, n. 2, 2019.
[6] GUPTA, Shyam. Natural Essential Oils in Skin Care & Formula Preservation. Happi, 2017.
[7] MANION, Chelsea R.; WIDDER, Rebecca M. Essentials of essential oils. American Journal of Health-System Pharmacy, v. 74, n. 9, p. e153-e162, 2017.
[8] SARKAR, Rashmi et al. Use of vegetable oils in dermatology: an overview. International journal of dermatology, v. 56, n. 11, p. 1080-1086, 2017.
[9] SARKIC, Asja; STAPPEN, Iris. Essential oils and their single compounds in cosmetics—A critical review. Cosmetics, v. 5, n. 1, p. 11, 2018.

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