desenvolvimento cosmético

O papel das vitaminas nos cosméticos

Cleber Barros
Escrito por Cleber Barros em 29 de julho de 2019
8 min de leitura
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Conheça quais são as principais vitaminas utilizadas em produtos cosméticos e seus benefícios

A vegetalização dos cosméticos já é uma tendência conhecida pelos formuladores, principalmente por aqueles que me acompanham aqui no blog ou nas minhas outras redes sociais.

Recentemente a Mintel publicou uma reportagem sobre as principais tendências na cosmetologia que serão emergentes até o ano de 2025 e uma dessas tendências é a incorporação de ativos alimentícios nos produtos cosméticos, a qual eu considero como “um passo além” da vegetalização. Essa tendência, na reportagem da Mintel, ficou conhecida como “Gastronomia”.[1]

Além disso, a Mintel fez também uma pesquisa sobre a utilização de vitaminas e outros suplementos nos Estados Unidos e no Reino Unido e uma das conclusões que se pode chegar foi o fato de que atualmente houve um ressurgimento de produtos que alegam possuir componentes derivados de nutrientes alimentares (como as vitaminas) em sua composição, o que pode ser associado ao fato de que os consumidores estão cada vez mais associando uma dieta saudável e um estilo de vida equilibrado a uma pele mais bonita. Outro ponto que se relaciona a esse fato é que cada vez mais pessoas estão consumindo vitaminas e outros suplementos nutricionais como parte de sua rotina diária, o que também contribui para a melhor aceitação desses componentes na sua rotina de skin care[2] (afinal, a beleza “de dentro para fora” já é bastante consolidada, então por que não apostar em uma nutrição “de fora para dentro”?).

Um dos compostos que estão cada vez mais ganhando espaço nos cosméticos, devido a essa tendência, são as vitaminas. Já é bem estabelecido que a ingestão de vitaminas é essencial para a nutrição do organismo humano e sabe-se que, além de fontes de nutrientes importantes, algumas delas também atuam como antioxidantes (o que representa outra tendência na cosmetologia).
No entanto, existem diversos tipos de vitamina: A, B, C, D, E, entre outras. Mas quais delas são utilizadas em cosméticos e quais não podem ser utilizadas? Quais os seus benefícios?

Bom, no artigo de hoje eu pretendo responder a todas essas perguntas, então se você se identifica com estas questões, aproveite a leitura!

Vitamina A

A vitamina A, suas formas derivadas e sua forma de pró-vitamina são amplamente conhecidas pelos seus benefícios nos produtos cosméticos.

O beta-caroteno, ou pró-vitamina A, como o próprio nome já explicita, é um precursor da vitamina A. Esse composto é lipofílico e suas principais fontes de ingestão na dieta são vegetais de coloração de amarela a vermelha (tal como cenouras e tomates, por exemplo).

Entre seus principais benefícios, podemos destacar o seu alto potencial antioxidante, pois o betacaroteno é capaz de quelar principalmente o oxigênio singlete (uma espécie reativa de oxigênio), inibindo assim o processo de oxidação.
Além disso, alguns estudos com animais demonstraram que tanto o betacaroteno, quanto a vitamina A possuem propriedades fotoprotetoras devido à inibição de danos causados pela radiação UV. No entanto, a pró-vitamina A é tão instável que seu uso em formulações cosméticas é considerado um tanto quanto limitado.

A vitamina A pode ser apresentada de várias formas, incluindo a vitamina A alcoólica (também conhecida como retinol), ésteres de vitamina A (como o palmitato de retinila e o acetato de retinila), vitamina A aldeído (ou retinal) e ácido retinóico (tretinoína).

A principal fonte de obtenção de vitamina A por meio da dieta corresponde à ingestão de compostos biológicos como gema de ovo e fígado. Quando aplicada por via tópica, a vitamina A tem como principal benefício a normalização do processo de queratinização, processo de que é atingido por meio da regularização que esses compostos exercem no crescimento e diferenciação das células epiteliais. Além disso, os retinóides possuem uma ação específica em determinados receptores da pele, o que resulta em processos como a suavização da aspereza da pele e diminuição das rugas.

A tretinoína é considerada como o retinol mais biologicamente ativo de sua classe. Inicialmente ela foi utilizada apenas para redução da acne, porém estudos comprovaram seus benefícios para a pele fotoenvelhecida, que incluem a redução das rugas, suavização e iluminação da pele e redução de quadros de melasma e lentigo, o que possibilitou que atualmente ela seja utilizada principalmente para a promoção destes benefícios.

As principais mudanças observadas a nível histológico derivadas da utilização tópica da tretinoína incluem a diminuição da adesão dos corneócitos e da hiperplasia epidermal, aumento das células de Langerhan, aumento da síntese de colágeno, elastina e da angiogênese.

O palmitato de retinila é utilizado em produtos cosméticos há muitos anos. Este composto possui um alto peso molecular e é bastante estável quando incorporado às formulações. Entretanto, este composto é considerado como o menos eficaz da família dos retinóides, sendo necessária a sua conversão enzimática na pele à forma de retinol (devido à clivagem das ligações de éster), sendo que posteriormente o retinol deve ser convertido à tretinoína por um processo oxidativo de dois passos, para que seja obtido todo o seu efeito ativo. Contudo, há limitações em relação a ambos os processos (conversão enzimática e processo oxidativo) na pele, o que faz com que ambas as formas de retinol e palmitato de retinila sejam consideradas menos eficientes do que a tretinoína.[3]

A CATEC (Câmara Técnica de Cosméticos), que é um órgão da ANVISA composto por profissionais da área técnica, em seu Parecer Técnico nº 4, de 21 de dezembro de 2010, recomenda:

“1) Que a vitamina A, nas suas formas retinol e ésteres de retinila, seja empregada em preparações cosméticas na concentração máxima de 10.000 UI de vitamina A/g de produto acabado.

1.1) Para fins de registro deve ser informado o teor em UI da matéria-prima utilizada na formulação (especificação do fornecedor) utilizado para o cálculo da porcentagem da substância na formulação final.

2) Que a vitamina A, na sua forma retinaldeído, seja utilizada em produtos cosméticos na concentração máxima de 0,05%.

3) Produtos contendo retinóides na sua formulação, em concentração acima de 1000 UI, devem apresentar testes de compatibilidade (irritação primária e acumulada, sensibilização dérmica e fotoirritação).

4) Quando atribuídos na rotulagem benefícios relacionados ao uso de retinóides, deve ser comprovada a estabilidade química dos mesmos no produto acabado.

5) Na rotulagem destes produtos deve constar:
– Não aplicar sobre a pele irritada ou lesada;
– Para o uso durante a gravidez, consulte um médico.

6) Para fins de registro, os produtos contendo retinóides na formulação são classificados como grau de risco 2.”[4]

Vitamina B

As vitaminas B correspondem a um grupo complexo de nutrientes hidrossolúveis encontrados naturalmente em diversos vegetais, como grãos e verduras.

O pantenol, também chamado de vitamina B5 (ou ácido pantotênico), é um ativo considerado altamente umectante, ou seja, capaz de absorver grandes quantidades de água, o que possibilita a hidratação e aumento na elasticidade da pele e das fibras capilares, o que explica sua ampla utilização em cosméticos destinados à hidratação.

A niacinamida (também conhecida como nicotinamida), por sua vez, é uma forma da vitamina B3 que também demonstrou ter efeitos positivos quando aplicada via tópica. Diversos estudos comprovaram que a niacinamida apresenta propriedades anti-inflamatórias, que demonstraram forte ação no combate à acne. Além disso, foi comprovado também que a niacinamida influencia na ação dos fibroblastos, melhorando sua função de barreira e diminuindo a perda de água transepidérmica devido à sua ação de estímulo da síntese de ceramidas.

Quando aplicada via tópica, a niacinamida demonstrou possuir benefícios na melhora da psoríase e da rosácea, além de exibir potencial antioxidante.[3]

A combinação da ação anti-inflamatória, antioxidante e de estímulo de ceramidas auxilia nas propriedades de melhora da pele fotoenvelhecida (como redução das rugas e uniformização da tonalidade da pele).

Vitamina C

A vitamina C, também conhecida como ácido ascórbico, é um composto hidrossolúvel naturalmente presente nas frutas cítricas e outros vegetais.

A utilização da vitamina C em cosméticos consiste principalmente no seu excelente potencial antioxidante, sendo que ela atua principalmente quelando os radicais livres induzidos pela exposição à radiação UV. Uma propriedade interessante da vitamina C é que ela atua regenerando a vitamina E, que também é um excelente antioxidante, gerando assim uma ação sinérgica com a mesma.

Duas formas de vitamina C muito utilizadas em cosméticos são: o palmitato de ascorbila e o L-ácido ascórbico.

O palmitato de ascorbila é um éster sintético lipossolúvel que se apresenta estável quando em pHs neutros. Alguns estudos indicam que este componente atua tanto como um antioxidante quanto como um anti-inflamatório, o que exibe benefícios interessantes para a pele, como a rápida recuperação de eritemas, por exemplo.

O L-ácido ascórbico é a forma mais biologicamente ativa da vitamina C e apresenta diversos benefícios para a pele. Este composto é hidrossolúvel, mas necessita de ambientes com pHs baixos para que seja estabilizado.

Estudos demonstraram que esta forma da vitamina C não só atua como antioxidante, como também possui outras ações interessantes em relação ao combate contra o fotoenvelhecimento, que incluem a redução na degradação e estímulo da síntese de colágeno.[3]

Vitamina E

A vitamina E é um composto lipossolúvel encontrado em várias fontes diferentes, como soja, castanhas, farinha de trigo integral e óleos vegetais. Ela é utilizada em cosméticos devido aos seus inúmeros benefícios, sendo o principal deles a sua potente ação antioxidante. Diversos estudos já comprovaram suas excelentes ações na redução do eritema, da peroxidação lipídica e da proliferação celular induzida pela radiação UV.

Existem duas formas principais de vitamina E que são utilizadas em cosméticos: o tocoferol (a forma mais biologicamente ativa) e o acetato de tocoferila (que, apesar do seu potencial reduzido em relação ao tocoferol, é bastante eficaz quando aplicado topicamente).[3]

Vitamina K

A vitamina K é um composto lipossolúvel naturalmente presente em diversos alimentos (como vegetais verdes, por exemplo) e sintetizado no organismo humano pelo fígado e pela flora intestinal.

Em seu Parecer Técnico nº 1, de de 4 de janeiro de 2010, a CATEC proíbe o uso da vitamina K em cosméticos, baseando-se nas afirmações de que essa vitamina é essencial para a formação de fatores de coagulação e protrombina, e que sensibilizações à vitamina K poderia causar desde dermatites de contato, até a morte do usuário.[5]

Bom, essas são as principais vitaminas empregadas e proibidas na formulação de cosméticos. Espero que você tenha aprendido um pouco mais sobre esse universo, e que em breve consiga incorporar esse conhecimento nas suas formulações.

Bom, esses são os principais empregos e proibições na formulação de vitaminas nos cosméticos.

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Referências:
[1] Mintel. [Trends 2025: Beauty & Personal Care]. 
[2] Tyrell, D. [FOODIE SKINCARE GAINS MOMENTUM] Mintel. November 27, 2017. 
[3] Lupo, M. P. [Antioxidants and Vitamins in Cosmetics] Clinics in Dermatology Y 2001;19:467–473.
[4] CATEC [Parecer Técnico nº 4, de 21 de dezembro de 2010 (atualizado em 05/07/2011)] ANVISA, 05 de julho de 2011, Brasil.
[5] CATEC [Parecer Técnico nº 1, de 4 de janeiro de 2010] ANVISA, 04 de janeiro de 2010, Brasil.

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